O assédio moral é totalmente diferente do sexual. É o que afirma Margarida Barreto, médica do trabalho e mestre em Psicologia Social. Segundo ela, é tão antigo quanto o trabalho e está relacionado às situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas pelas quais passam os trabalhadores de todas as categorias durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções. “O assédio moral é muito comum em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em que predominam relações desumanas e não éticas de longa duração, desestabilizando a relação da ‘vítima’ com o ambiente de trabalho e a organização, forçando-a a desistir do emprego”.
Na tese “Uma Jornada de Humilhações”, Margarida realizou 2.072 entrevistas com homens e mulheres, em sua maioria, trabalhadores do chão de fábrica das indústrias paulistas, em 2000. Anos depois, estendeu a pesquisa, incluindo executivos de todo o país.
São várias as causas do assédio moral. As vítimas são pessoas que adoeceram em conseqüência do trabalho; trabalhadores acima dos 40 anos e com altos salários; sindicalistas e cipeiros, além de mulheres que têm filhos menores de dez anos que faltam muito no trabalho por conta dos filhos.
Os executivos enfrentam uma prática mais sutil de assédio moral: os que assediam desejam aliciar a vítima e, quando esta não concorda, plantam roubos, invadem as casas e transformam suas vidas. Eles são assediados por colegas de trabalho por não concordarem com práticas fraudulentas e concorrência desleal.
A ‘vítima’ é isolada do grupo sem explicações, passando a ser hostilizada, ridicularizada, inferiorizada e desacreditada. Por medo do desemprego e com vergonha de serem humilhados, ela gradativamente se desestabiliza e fragiliza, 'perdendo' sua auto-estima.
As relações conflituosas sempre existiram, mas nos anos 80, as empresas diminuíram o número de trabalhadores, que perderam muito de seus direitos: são contratados como terceirizados, temporários, acumulam funções e também as tensões dentro das empresas.
"É torturante", alerta Margarida. Alguns tentam até o suicídio. "Os homens compreendem melhor o que é assédio moral, escrevem sobre isso, se identificam. Há dez anos, homens tentavam mais o suicídio; hoje, são as mulheres", afirma.
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