Veja os depoimentos de quem tem Ler/Dort

Veja os depoimentos de quem tem Ler/Dort

“Mesmo com dor, tenho que fazer as coisas para não atrofiar”


Depois de 13 anos com Ler/Dort, Anália Almeida de Souza acredita que muita gente não sabe a gravidade e tem medo da pressão no ambiente de trabalho. Funcionária de uma empresa de publicidade de São Paulo, está afastada desde 2001. Para ela, quem acaba de descobrir a doença, deve consultar um médico imediatamente e jamais abaixar a cabeça quando se tem direitos. “Eu 'engoli muito sapo' e ouvi muitas coisas que não desejo a ninguém. Quando se deixa de dar lucro à empresa, você não é mais útil”, lamenta.


Como ocorre na maioria dos casos, ela sentia fortes dores no punho, mas achava que o problema melhoraria. Em 1994, porém, foi ao médico e ele a impediu de retornar ao trabalho. Nesse período, Anália já trabalhava como auxiliar de CPD/ faturament, ou seja, usando diariamente o computador. “Antes desse sistema informatizado, fazia tudo a mão. Eram 30 mil faturas por quinzena”.


Anália foi a primeira funcionária a apresentar os sintomas das Ler/Dort. Foi afastada do trabalho, em licença-médica, por cinco meses.


Quando voltou, como não poderia continuar no mesmo departamento e função, foi trabalhar na contabilidade, para realizar a tarefa de uma funcionária que estava em licença-maternidade. Segundo Anália, a responsável pela empresa disse que era o único local disponível e que caso ela não aceitasse, "iria para o lixo”. Como o trabalho estava atrasado, ela se empenhou para colocar as tarefas em dia. "Esqueci os motivos pelos quais estava de licença”, conta. Resultado: as dores voltaram e em outras partes do corpo, como braços inteiros, joelho e coluna. Em 2001, foi afastada novamente.


 “Sinto uma dor insuportável, mas, mesmo assim, preciso me movimentar para  não atrofiar”, relata hoje, quando não consegue subir escadas. Em momentos mais críticos, tem dificuldade até para pentear o cabelo.


Atualmente, Anália faz tratamento psiquiátrico, toma muitos remédios e precisa da ajuda constante de uma pessoa. “Só tive conhecimento profundo do problema no último afastamento”.


Nesse período, Anália conquistou alguns direitos: tem passagem gratuita de metrô e ônibus intermunicipal. Agora, espera a aposentadoria, pois não tem condições de retornar ao trabalho.


Anália Almeida de Souza, ex-auxiliar de CPD de uma empresa de publicidade, fazia cerca de 30 mil faturamentos a mão por quinzena. Hoje, mesmo com dor, ela tem que fazer tarefas básicas para não atrofiar os seus músculos.

 

"Não aguento carregar uma caixa de leite sozinha"


A rotina de Zizumina Madalena Miguel é bem diferente de quando trabalhava. Hoje, todo o mês tem consulta médica: ortopedista, endocrinologista e reumatologista. Seu diagnóstico? Fibromialgia, atrofia nas mãos direita e esquerda, síndrome do Túnel do Carpo e ligamentos comprometidos. “Não agüento carregar uma caixa de leite sozinha. Dependo muito da ajuda de minha filha”, afirma. O tratamento das doenças originárias das Ler/Dort é um processo que não acaba. “Já fiz cirurgia no joelho, vivo à base de relaxantes, antidepressivos e remédios para tirar a dor”.


A história de Zizumina, 48, começou quando ela trabalhava na linha de produção de empresa metalúrgica do estado de São Paulo. Como montadora, testava toca-fitas e rádios dos automóveis. “Era o teste final antes do controle de qualidade. Eu apertava muitos botões”.


Em 1986, Zizumina começou a sentir dor no ombro esquerdo e, posteriormente, no pulso e antebraço. Como a empresa tinha médico, demorou a procurar um especialista fora. Um ano depois, ficou afastada por oito meses portadora de tenossinovite.


Depois desse período, retomou a rotina de trabalho. “Era muita pressão; eu tinha tempo estipulado por tarefa”. De 1988 a 1992, foram registrados seis afastamentos por Ler/Dort, período em que outros casos começaram a aparecer na empresa.


A doença já abrangia outras partes do corpo. Em 1992, Zizumina conseguiu um benefício vitalício de 40%, concedido pelo Centro de Reabilitação Profissional (CRP), que atestou ser portadora de doença do trabalho.


Em 1999, a empresa propôs acordo para as pessoas que estavam afastadas por doença do trabalho: dois anos de salário e um ano de convênio médico – inferior ao que tinha na época.

“Eu aceitei abrindo mão dos meus direitos”. Zizuma trabalhou na empresa durante 17 anos. Com sua saída conseguiu aposentar-se por tempo de serviço: 25 anos.


Da empresa, resta a previdência privada que ela pode sacar apenas com 55 anos. O benefício vitalício foi encerrado em 2002. “Ainda estou buscando meus direitos”.


Para quem acaba de descobrir a doença, ela dá uma dica: de imediato, é necessário se afastar totalmente e ir para outro ramo. Depois de instalada e comprovada, nada adianta mais. É irreversível.


Zizumina Madalena Miguel teve os primeiros sintomas de Ler/Dort em 1986. Hoje, não consegue carregar uma caixa de leite sozinha e depende de ajuda constante.

 

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