São Paulo funciona 24 horas. Durante o dia, a cidade é dinâmica, nervosa, apressada. À noite, continua agitada, especialmente nas áreas de bares, restaurantes e boates. Para sustentar toda a engrenagem da grande metrópole, milhares de trabalhadores batalham nos dois períodos: diurno e noturno.
Existem pessoas que têm prazer em trabalhar à noite. Uma delas é Ana Firmino, diretora do Sindicato dos Enfermeiros de São Paulo, que faz, em média, três plantões por semana, das 19 horas às 7 horas. “Oficialmente, pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), tenho apenas uma hora de descanso, que é o horário de refeição”, diz ela.
Segundo Ana, o trabalho é mais intenso até a meia-noite. Depois fica calmo até as 4h30. Ana trabalha no Serviço de Atendimento Médico de Urgência 192, ou seja, na ambulância, que faz o suporte avançado de vida. Ela conta que atende pacientes em bairros nobres, de classe média e também em favelas. “A adrenalina vai a mil. Sei que é arriscado, mas não tenho medo”.
Casada, com três filhos, Ana diz que o marido sempre aceitou sua profissão. É ele quem fica com as crianças à noite, busca na escola. A filha de 14 anos reclama: “você não conversa comigo”, afirma Ana. Mas o gosto pela profissão a leva a deixar a vida social de lado. “Tem que ter vocação e amor ao próximo”, declara.
O bancário Marcos (o nome foi trocado a seu pedido para evitar retaliações da empresa) trabalha há 18 anos no setor de compensação de um grande banco. Entra às 22 horas e, teoricamente, sai às 7 horas. Muitas vezes saio às 9 horas, 10 horas. Cheguei até a deixar o trabalho às 14 horas. “É um pouco complicado”, declara.
Marcos afirma que as conseqüências são boas e ruins. “Durmo pouco, porque durmo picado e estou mais suscetível a doenças. Vou almoçar às 15 horas ou 16 horas e à noite como um lanche. Tenho tendinite, artrose clavicular e sinusite. Para completar temos sobrecarga de trabalho. Algumas vezes saio ‘quebrado’. Em compensação ganho adicional noturno. Trabalho muito, mas consegui juntar um bom dinheiro. Hoje, também tenho um táxi e trabalho com ele à tarde”, relata.
Já Edson Ribeiro gosta da noite e por este motivo resolveu trabalhar nesse período. Ele administra a chapelaria de uma grande casa noturna de São Paulo das 22 horas às 6 horas, de quinta a domingo. Vende cigarros, balas, chocolates e guarda as bolsas dos clientes. “Às vezes fica estressado, mas é divertido. A família e os amigos aceitam porque é um trabalho digno, ganho dinheiro na balada”, diz.
Ribeiro conta que faz o papel de um psiquiatra. “Estou ali para ouvir os problemas das pessoas. Escutar o outro é importante porque ninguém ouve ninguém e as pessoas são muito carentes. Às vezes, nos tornamos amigos”, observa.
Ildebrando Costa de Souza trabalhou durante quatro anos, das 23 horas às 6 horas como orientador de pátio no estacionamento de um shopping. Desempregado, afirma que, se encontrar outro emprego durante a noite, aceitará. No período em que esteve empregado, Souza encontrava a esposa apenas nos finais de semana.
Para Fábio Santana, diretor do Sindicato dos Hoteleiros de Santo André, que durante nove anos trabalhou das 23 às 6 horas numa rede de fast food, quem trabalha à noite fica meio desligado, nunca consegue descansar totalmente. “O físico acaba”, observa. Já Zenilde Rocha Batista não gosta de trabalhar à noite, mas trabalha porque, para ela, no momento, este é o melhor horário. Zenilde é funcionária de um café, das 20 horas às 4 horas. “Eu e meus filhos estudamos pela manhã. Durmo até às 16 horas. Depois fico com as crianças e à noite trabalho. Na minha folga semanal, cuido da casa, das crianças”, diz.
Raquel Pereira Gonçalves trabalha em uma lanchonete, de segunda à quarta, das 18h à meia-noite. De quinta a domingo fica até a empresa fechar, ou seja, 3 horas da madrugada. “Vejo meu filho pela manhã, quando vou trocá-lo para ir à escola. Ele reclama, pede para eu arrumar outro emprego, mas gosto de trabalhar à noite”, diz.
Responda ao nosso questionário sobre salário e condições de trabalho.